terça-feira, 18 de abril de 2017

Princesa Sushi

Hoje é dia dezoito e daqui desta página do calendário meu olhar pela janela te procura. E você, dorzinha bela e inefável, habita invisível no silêncio das horas aumentando (no tic tac que não cessa) sua presença ao meu lado, ainda aqui dentro do quarto.

Calendário louco, sorriso pouco. O trem do tempo já passou, ela diz. Mas e o que que eu faço com essa vontade que eu tô do seu abraço, de ver seu carro estacionando aqui na porta e ouvir você dizendo que sim, eu gosto de você um pouquinho também? Do seu olhar dentro do meu, ainda que por um segundo, uma vida inteira?

Hoje é dia dezoito, sushi, e eu sinto tanto a sua falta. Do seu bom dia, da sua risada alta igual à da sua mãe. Vem, senta aqui do meu lado, diz que tudo isso é um pesadelo, que você sabe que essa folhinha na parede é mais que um e que um oito pra mim. Vem que eu já troquei de roupa e de rota mas tudo ainda respira você aqui.

Noite cinza, história linda. Não dá pra atrasar um pouco o ponteiro? Você que é dona de cada instante, por um acaso, não dá pra me levar pra quando tudo estava em paz? Pra quando o relógio era só uma valsa? Pra quando você me chamou pra ir dormir pela primeira vez na sua casa? 

Hoje é dia dezoito e seriam tantos dezoitos, meu amor, se em abril não tivesse mais sábados a tarde... Hoje é 18, sushi, mas vai dormir que amanhã é outro dia. Boa noite. Dorme com Deus.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Sobre cervejas, descobertas e tudo aquilo que já sei.

Quando você se levantou pra ir embora, imediatamente, eu descobri. Não por que as pessoas em nossa mesa me olharam com aquela ousadia desavergonhada dos meninos da quarta série quando o coleguinha se apaixona perdidamente pela professora de inglês. Não por que a moça do lado jurou, super animada, ter sentido vibrações positivíssimas entre um gole e outro das nossas cervejas. Descobri por que, ao me despedir, senti uma vontade absurda de pedir pra você ficar.

E não era pra ser você. Na verdade, não era pra ser ninguém. Era um momento meu e só quando você chegou com tudo, arrombando portas e janelas com essa conversa boa, esse sorriso fácil e todos os mistérios possíveis dentro dos olhos caramelos. Completamente rendido, apenas agradeci o fiel acaso por, finalmente, trazer você pra mim.

Descobri por que a saudade me acordou às três e meia da manhã assoprando no meu ouvido a vontade de te ver novamente e sentir outra vez todo aquele misto de loucura e encantamento. E eu, protegendo a fama do meu coração durão, bem que resisti, afinal de contas, há várias formas de se gostar de alguém sem, necessariamente, desejar sentir o outro dançando no estômago a cada vez que o celular apita uma nova mensagem do whatsapp. Sem sucesso, resisti.

Não era pra ser você quando já no outro dia, logo cedo, nos falamos pelo telefone. Nem quando estava todo mundo na mesa menos você e eu senti sua falta, era pra ter sido você. Não era pra ser você quando escutei mil vezes a música que você disse que mais gosta. Não era pra ser você em momento algum, mas que ótimo que sempre foi.

Hoje esse sentimento descoberto é tão nítido como ferida exposta e, modéstia a parte, raro como uma sexta feira sóbria - e faço questão de ser assim para, de agora em diante, tudo poder ser você em voz alta sem medo dos meus próprios ecos. Ser você cada memória, cada conversa de boteco, cada filme bobo que me faz suar pelos olhos. Por que o que eu sei quando você fica é muito mais bonito do que eu descobri quando se levantou pra ir embora.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Para além desses olhos que eu ainda não descobri a cor

Inicialmente eu me apaixonei pelo seu rosto: uma carinha assim tão perfeitinha que se me contassem que Michelangelo voltou só pra esculpir cada detalhe, eu acreditaria. Mas aí fiquei em dúvida. Depois me apaixonei pelas tuas coxas que não mentiria se dissesse que são as mais lindas que já vi. Outra vez me questionei. Logo após me apaixonei pela sua voz ressoando pela casa que, de tão deliciosa, eu poderia incluir cada palavra na pasta "a melhor playlist dos meus vinte e poucos anos". Sobre mim, novamente, apareceu uma grande e cintilante interrogação.

Nessa indecisão, pensando e pensando, talvez eu tenha entendido pela primeira vez o beabá da beleza com aquela clareza irracional das crianças. A tal beleza que fez meus avós ficarem casados cinquenta e tantos anos. A beleza que é ainda mais bela que si mesma e que estava ali, tão na minha cara que até dá pra sentir uma certa raivinha por não ter descoberto tudo isso antes.

Hááá! Yey Yeah! A vida nos pegando na boa e velha piadinha do malandro: nunca foi o teu rosto milimetricamente desenhado ou tuas mechas blond. Sempre foi o jeito incrível que você mexe no cabelo passando os dedos do comecinho da testa até a nuca, como que a fazer um rio loiro desaguar no mar dos seus ombros. Nunca foram as tuas coxas de dançarina do É o Tchan. Sempre foi o jeito que você se senta e cruza as pernas, o jeito que você passa de lá pra cá desafiando meus sentidos. Nunca foi tua voz, que ironia. Sempre foi você olhando bem dentro de mim com esses olhos que eu ainda nem defini a cor e me perguntando se eu vou.

Sinto lhe informar, moça: você é ainda mais bonita do que diz o seu espelho todas as manhãs e posso até arriscar que esses homens que te amam e proclamam em um loop uníssono a sua perfeição ainda não viram sequer um décimo dessa lindeza que é você. E você sabe por quê? Por que eles ainda não aprenderam a ler as histórias que o seu sorriso conta às três e meia da tarde, nem o livro dos teus abraços ou o dicionário psicodélico dos teus gestos quando acorda. Melhor pra mim que aprendi e junto a ti agora todas as coisas. 

Depois de tudo eu me apaixonei por você abrindo a porta do quarto tão maravilhosamente que eu estou convencido que se existisse um curso de girar maçanetas você daria aula. E tive certeza disso. Depois de tudo eu me apaixonei por você comendo pizza de um jeito tão fascinante que dali em diante elegi mussarela com manjericão o casal vinte da culinária gourmet. Depois de tudo, definitivamente sem por quê ou pra quê, eu me apaixonei por você. E o melhor é que depois de tudo ainda é só começo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Casualmente na Biblioteca Nossos Olhos Se Encontraram.


Me lembro bem, você passeava e cuidadosamente percorria tudo com os olhos no volumoso corredor dos clássicos. Eu, desajeitado até a alma, procurava alguma coisa não lida entre os beats americanos quando, de repente, saquei um Bourroughs e você um Joyce, e nossos olhos se cruzaram no vão da prateleira pela primeira vez. Duas infinitudes paradas entre Junkie e Finnegans Wake tentando encontrar um equilíbrio entre a fábula, a cábula e todo o caos que havia em nós.

Aquele instante, infindável instante de lirismo e frenesi, de amores - literalmente - entregues ao pó e às traças, não durou, talvez, mais que alguns poucos segundos. Ainda vagueia pela memória a imagem de você sorrindo desapercebida de tudo aquilo que causou e sumindo (se perdendo?) dentro das histórias mais bonitas que alguém já escreveu. E eu nunca mais te vi.

Talvez esteja agora em Praga sendo Teresa. Talvez esteja, bravamente, lutando em Segóvia. Quem sabe até em Santiago lendo sobre os ombros de Neruda a sua canção desesperada. Não me admiraria encontrá-la em Manhattan de mãos dadas com o professor Kepesh ou no Rio vivendo como Bentinho. Minha única certeza é que, onde estiver, terá naqueles grandes olhos de jaboticaba madura o inconfundível brilho da descoberta.

Fico imaginando se algum dia ainda irei te encontrar por aí numa dessas bibliotecas da vida e faço planos de te chamar para um café só pra saber como termina O Retrato de Dorian Gray e confessar ao pé do seu ouvido que nunca faltou tempo de concluir a leitura, o que faltou foi vontade mesmo. Pra te ouvir falar como Borges é fantástico ou como são chatas essas trilogias vendidas nas Lojas Americanas. Te ver rir de tudo isso.

Quando voltar das suas maravilhosas aventuras faça o favor de me encontrar aqui, nesta poltrona de canto, o cara de blusa bege lendo Cem Anos de Solidão caso você não se lembre mais de mim, Mas venha mesmo. Quero muito saber como foi a viagem.




segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Fica.

Meu único pedido é que você nunca permita se apagar em mim - o mundo é foda, baby, e o baixo astral é competitivo: contas, trânsito, coisas fora do lugar. Que o seu sorriso sempre me lembre que ter te encontrado, ainda que há bastante tempo, e sentido naquele instante infinitas possibilidades brotarem dentro do nosso abraço me fez entender que é das lembranças mais simples que, as vezes, se alimentam os amores mais complexos, que felicidade é a única coisa que deve ocupar nossos espaços vazios e que distância é um conceito relativo já que, mesmo de longe, te sinto sempre perto de mim. Não me deixe esquecer, nem mesmo nas terças feiras mais cinzas, nem mesmo quando toda minha poesia parecer estar perdida, que é de você que eu gosto e que é pelo caramelo dos seus olhos que se acabam estoques inteiros de vinho nas prateleiras desta cidade onde o seu cheiro não chega. Meu único pedido é que você ocupe este lugar que é só seu.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Quando a gente não escolhe mais.

Quando eu te conheci você tinha certeza de tudo e, aos poucos, fui me apaixonando pelo seu jeito resoluto de lidar com as coisas mais complexas como escolher entre um cineminha ou tomar um porre de tequila. E fui me perdendo, me deixando desaparecer ao seu lado e nem vi quando você deixou de ser essa pessoa que tinha tudo preparado pra se tornar alguém que não pensava em nada mais do que suas próprias decisões.

E eu  fui ficando ali de lado, fazendo parte da mobília, esperando você se definir. Juntando grana pra comprar um carro mais novo, escolhendo aquela cômoda vintage, fazendo a moça da loja mostrar e dobrar todo o estoque de roupas do mostruário. De vez em quando até batendo meus pés despudoradamente no assoalho na esperança de que você notasse que eu também estava ali esperando uma definição: ei, e nós, como é que fica?

Você sempre com seus assuntos para serem resolvidos urgentemente, seu telefone insuportável que nunca parou de tocar, mudando a ordem das almofadas da cama e quase sempre optando por lençóis de solteiro. Eu ali no canto, insistindo em silêncio que você ainda pensasse na gente, que parasse um pouco pra perceber que sim, sempre gostei de tudo como estava, nada precisava mudar além da direção dos seus olhos.

Até o dia que eu não estive mais afim de esperar você resolver a sua vida. Por que sempre foi assim: a sua vida e nunca a nossa vida. O dia que eu também decidi descongestionar a minha, pôr minhas coisas no lugar. Sei lá, de repente pra que você caísse na real e sacasse que talvez eu tenha me apaixonado por aquele carro que só pegava no tranco, que eu sempre achei melhores as velhas almofadas que guardavam seu cheiro e que aquela cômoda que você gastou uma nota pra comprar me fazia ter pesadelos. Mas naquele momento você tinha coisas demais pra pensar e, mais uma vez, esse assunto ficou pra depois.

Ontem a noite sua mãe me ligou, disse que você anda meio deprê, que perdeu a vontade de sair nas sextas feiras e que fala de mim o tempo inteiro. Bom, ainda gosto de você se quer mesmo saber. Mas estou feliz e tenho a impressão que já é tarde demais pra nós, não acha? Espero que você se cuide e que tenha mais clareza nas suas próximas definições, que você saiba decidir o que é prioridade e sempre opte pelo calor de um abraço à trabalhar até mais tarde pra comprar um ar-condicionado. Quanto a nós, sinto muito, agora não dá mais.




quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A última vez.

A primeira vez que o amor me pegou eu estava atravessando a rua de mãos dadas com meu avô. Era de noite e eu vi um caminhão de mudanças parado na frente do portão da menina mais bonita da escola e, nessa noite, ainda muito menino, eu percebi o quão dolorida era a beleza de gostar de alguém.

A segunda vez que o amor me pegou, me lembro bem, entendi que a gente se apaixona mesmo é pelos detalhes: um sorriso bobo na fila do lanche, um abraço sem contexto, o jeito como alguém ajeita a roupa quando se levanta. Falo isso por que a segunda vez que o amor me pegou foi por uma das gêmeas idênticas da quarta série, tão iguais que até a professora se confundia. Mas eu não. Poderia listar cada minúscula diferença que fazia eu suspirar por uma e não por outra.

A terceira vez que o amor me pegou eu também me senti amado e o nosso primeiro beijo seria um daqueles momentos perfeitos para ilustrar uma juventude curiosa, cheia de dúvidas e tão carente de certezas. Mas acabou. Ficou o aprendizado de que o sentimento tem lá seu manual oculto de sobrevivência - um passo em falso e bam! tudo está acabado.

Meus amores número quatro, cinco e seis também me pegaram de jeito. Cada um à sua maneira mas todos com o mesmo ensinamento: paciência e vodka curam qualquer ferida. Amores que deixaram marcas importantes em mim, marcas que doeram absurdamente pra cicatrizar e que hoje servem de lição como um joelho ralado tanto pode significar que correr nem sempre é a melhor ideia como uma lembrança de que a brincadeira foi do caralho. Pro resto, Merthiolate.

A última vez que o amor me pegou eu tinha tinha um plano preparado: resolveria tudo com uma boa dose de Vinícius de Moraes e algumas rosas vermelhas. Mas as coisas não são tão simples como eu esperava e novamente me perdi quando você elogiou qualquer coisa em mim. Meus óculos, minha voz, sei lá, não lembro. Eu poderia apenas ter dito obrigado e continuar meu caminho habitual, mas a vida é feita de escolhas, baby, e a minha foi, a partir daquele momento, te amar pra sempre sem deixar o próximo amor acontecer.