quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ele e, talvez, ela.



Ele já acabou com tudo. Os dedos egocêntricos já não passeam pela nuca e os livros, estupidamente, definharam com os pingos de café das noites em claro. Definitivamente ele não era mais o mesmo. Sem seus discursos pseudo filosóficos, sem as bebedeiras homéricas que, vez ou outra, lhe conferiam até um certo charme, sem boca, sem pernas, sem sentido e sem razão ele anda caminhando a esmo. Ele, que antes disso por tantas vezes fora insultado na rua por mães alucinadas, pedindo ora pra sair da vida de suas filhas, ora pra mendigar alguns esparcos instantes em sua companhia, agora não tem prazer em outros corpos e, talvez por isso, andam até dizendo por aí que ele enlouqueceu. Tudo por ela.
Ela também o amava, mas amava de outro jeito, de outras formas de amor. Ela se amarrava no jeitinho apaixonado dele mas, no fim de tudo, não dá pra se amarrar e amar, três letras ficariam de fora dessa loucura. Com aquela coisinha dentro que só quem se perde acha, ela o conquistou. Sem querer, sem palavras e jogando o cabelo pra trás. Não há o que entender. Tampouco o que se explicar. Ela o ama, mas ela não o quer. Ele que morra de saudade em algum hospício qualquer.
Os dois se encontram quase todo dia e sem perceber vão se perdendo. Ele vai se acabando. Ela, coitada, já está no barco. Acho até que um dia eles vão se casar. As coisas mudam, cara. Amanhã é outro dia. A festa vai reunir os velhos amigos. A nova casa se encarregará de abrigar o velho amor. Perdidos provavelmente envelhecerão juntos. Mas que seja logo. Antes que ele se acabe e ela se perca.

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