sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ensaio do amor no carro.



De repente ela puxou a minha mão direita e encostou no seu peito esquerdo. Era hora de parar o carro. Parar a vida. Deixar o tráfego fluir. Seus olhos que pareciam qualquer coisa que eu não sei o que é, apesar de que naquele instante eu jurei saber e conhecer desde menino, me fitaram por alguns segundos. Ela me beijou. Me beijou como uma garota que eu amava no colégio, seu gosto de canetinha de melancia. Tudo era claro, os postes, as luzes, as putas com seus orgamos prolixos, os signos.

Eu que já tinha lhe pedido tantas desculpas, naquele momento era o credor dos seus perdões. Perdão por ter me rasgado a camisa e a sensatez, o banco do meu carro com a friccão das suas coxas, perdão por ter entrado com tudo, na contra mão, nos sonhos eventuais de um homem como eu, tão simples. Ali não cabiam frases feitas, de efeito ou coisa assim. Ali eram só dois corpos que se enroscavam perigosamente em um drive-in. Sexo, tesão, uma foda casual. Vontade de bicho.

Gozamos. Nos olhamos. Mão na nuca. After kisses. Liguei o carro e continuei o itinerário. Ela ajeitando a calcinha sob o vestido. Não podia entrar em casa e dar de cara com a avó assim. Eu ajeiteitando os meus sentidos ainda com as mãos no volante. Não podia dar de cara no real, ainda com tantos cheiros, gostos e sensações. Parei em frente ao seu portão e ela me pediu pra telefonar. Saiu. Sumiu. Não liguei nunca mais.

Luísa ia continuar com seus afetos com sabor de pra sempre, ia olhar outros olhos, rasgar outros bancos. Eu ia ser o mesmo frequentador de lugares comuns. Talvez não mais os mesmos. Talvez nunca mais tão desse jeito.

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