sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A gente se vê.



Aproveita e leva embora suas roupas, seus discos e seus livros, mas vá logo. Pegue tudo o que ainda for seu e saia. Não quero nada, pra mim a solidão me basta e essa garrafa de vinho está de bom tamanho. Hoje o dia nasceu quadrado e muito me faz bem olhar esse horizonte torto. Portanto, me deixa aqui quieto. Só não esqueça de deixar as chaves na samambaia se a sua intenção for não voltar nunca mais.
O liquidificador fica. A estante fica. As histórias também. Não quero continuar aqui e ter a impressão de que mudei pra um lugar maior. Ou leva. De boa. Não quero discutir esse tipo de coisa logo agora, pode ser? Apenas saia, com suas caixas de momentos inesquecíveis, com as suas lágrimas que secarão e seu coração de ouro. Vale muito mas é duro. É pedra.
Qualquer dia a gente se vê, de repente até se pega e vai dormir em algum motel de beira de estrada. Mas agora saia, tem um táxi te esperando lá embaixo.
Se isso tudo fosse antes eu te pediria incondicionalmente pra ficar, pra esquecer essa bobagem e te diria que é uma fase, que passará. Mas como? Como se a vida me ensinou nesses anos de constantes batalhas com as coisas mais banais que nada fica, nada permanece, nada se sustenta? Como se eu não soubesse, como se eu não visse que amanhã ou depois a gente se machucaria de novo brigando por pasta de dente. Vai. Me deixa aqui.
Vai, mas vai sabendo que aqui as coisas ainda ficarão muito tempo fora do lugar. Vai sabendo que eu vou morrer de saudade, que eu vou sofrer pra caralho. Vai sabendo que eu te amo. Vai sabendo que a coisa que eu mais queria é que você continuasse aqui tomando sorvete no sofá enquanto assiste televisão. Vai e não volta. Por favor. Que amor assim eu não quero.

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