segunda-feira, 18 de junho de 2012

O amor segundo Aristótoles.



Preciso descobrir seu conflito - eu diria se tivesse um pouquinho mais de intimidade com você e estivessemos conversando deitados na cama, olhando pro teto, depois de um sexo ácido. Entender a sua linha dramática, fazer uma decupagem semiológica das suas circunstâncias pra lhe dizer aonde é que que quero chegar com esse enredo. Mas não, apenas continuo em silêncio à observar o desenrolar de um filme que eu já vi.

Eu posso começar assim; você me pede pra buscar gelo sem se preocupar se eu estou com a mão suja, me escuta atenta e com os olhinhos mais mágicos que já vi, se perde quando lhe peço pra vir comigo - eu, você tá me chamando pra ir com você?, e deixa transparecer que está orgulhosa e aflita ao mesmo tempo como se estivesse pronta pra ingressar em um avião e conhecer um país novo. Ah, e o velho truque de me dar atenção... esse você usou bem! Pra terminar você bota uma vírgula e me chama de Chicão. Porra, Chicão é foda. Chicão é muita intimidade pr'uma garota que eu acabei de conhecer e quero amar pro resto da vida.

Desenrola-se que isso me deu tanto tesão que, aproveitando que o aniversário dela seria semana que vem, eu comprei um presentinho e marquei um vinho lá no meu apartamento pra entregar. Daí eu não posso ir e também não ligo desmarcando. O clima fica tenso. Rufus Wainwright começa tocar ao fundo e eu quase posso me ver passeando cabisbaixo no Central Park, sobre as folhas amarelas do outono.

Eu a procuro, peço pra ela vir buscar o presente aqui no meu trabalho mesmo, digo que a gente pode sair depois, tomar um café e conversar. Ela disse que vem. Eu aqui espero pra ver como essa história vai terminar.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A lua amarela dos intelectuais e loucos.


Ninguém quer escrever sobre o amor. Ninguém quer falar de amor. Você disse que queria ficar um pouco mais. Pronto, se esta sociedade de merda fosse minimamente mais sensível, isso seria manchete do New York Times por uma semana. Você nunca quis permancer nem um segundo além do estipulado, sempre tinha uma ligação pra atender, uma mensagem pra enviar e uma hora pra chegar. Mas na sexta, ah, na sexta você disse que queria ficar.

Lá fora o mundo pulsava e parecia que ia explodir a qualquer momento, as luzes piscavam, os carros rodavam, mulheres davam, filhos nasciam, mas a gente estava ali, doidos pra que aquela noite fosse tão somente a alegoria do pra sempre.

Alguém disse alguma sobre intelectuais e loucos, sei lá, não lembro bem. O fato é que nada pra mim será tão inesquecível como teus olhos nos meus olhos e a sensação de que juntos somos imbatíveis. Tudo bem, foi só uma ou duas partidas de truco pra mediocridade do mundo mas, pra mim, pra mim que gosto tanto de você, bastou como bastam três mordidas num McLanche Feliz pras crianças ocidentais cagarem pro resto do universo.

Eu gosto de você, é fato e é prolixo. Eu gosto de você independente de quem você gosta, independente das garotas que eu transo, independente de tudo. E eu gosto de você em silêncio, pra não perturbar seu sono, pra você não se assustar.  A lua amarela que brotou no céu na hora em que você foi pra casa foi só um exemplo.