sábado, 27 de outubro de 2012

Fique, mas com cuidado.



Ei, você que tá chegando agora, vá com calma, não tenha pressa de saber o que se passa por aqui, mas olha só: honre este lugar e comece a ter orgulho de estar aonde você está. Muitos móveis já estiveram mobiliando esta sala, muitos sorrisos já desfilaram neste lençol e eu já perdi a conta de quantos litros de sorvete já mancharam este velho sofá. Ouça bem, não venha querendo mudar a planta, abrir fendas que eu gosto desse jeito assim, estranho. Eu te convidei pra entrar, permanecer é por sua conta.

Nessa prateleira hoje cheia de fotos nossas, muitas outras já estiveram. Outras manias, outras famílias e de vez em quando os discos dos Beatles. Let it be. Let it be. Vai se acostumando com essa presença de tantas ausências que eu, de verdade, espero que você fique. Aquele quadro ali do canto é opcional, pode jogar fora se quiser. Escuta, nesta casa que hoje também é a sua casa já morreu alguém. Pensando bem, muitos alguéns. Mas relaxa, morreram por quê quiseram, morreram fechando a porta sem me dizer tchau. Morreram levando as fotos, as tais fotos das prateleiras, e certa vez morreram quando foram embora com o Sid, meu labrador viciado em calcinhas. Tudo bem, você pode colocar suas coisas no quarto enquanto eu preparo um café pra nós dois.

Aqui, neste lugar frio, que dá para o nascente, muita coisa legal já aconteceu também. Já teve a Carlinha, que era linda, estudada e fazia o melhor macarrão que eu já comi. Teve a Luciana, que era louca, e que provavelmente continua sendo, mas ainda assim encontrava nas horas mais difíceis um jeito carinhoso de me fazer cafuné. Por aqui também já esteve a Mônica, trabalhadora que só ela, morou aqui dois anos e meio e eu só a vi duas ou três vezes. Pois bem, por aqui já passaram muitas, quase tantas como as que passaram pelo Martinho da Vila, e eu amei a todas. Amei do jeito mais puro e sincero que eu poderia amar alguém. E agora cá está você, não menos incrível, não menos querida e não menos intensa, e eu também te amo. EU TE AMO assim, em letras garrafais, só pra você lembrar quando for embora e também morrer pra mim.

Só não vá pensando isso ou aquilo de mim, que eu sou machista, saudosista ou o caralho a quatro. Eu também respeito o seu passado, também quero conhecer devagarzinho seus amores e tenho a impressão que você tem muito mais a me contar do que estes seus olhinhos curiosos. Mas fica pra outro dia, pra outra hora. Por enquanto senta aqui que eu quero te fazer feliz como eu fiz com as outras.

Honre e se orgulhe. De qualquer forma, até desculpa por isso, mas entenda, eu também vou te amar assim quando outras estiverem aqui.

domingo, 21 de outubro de 2012

Again.



Eu sei que isso tudo parece meio coisa de tonto, mas veja bem: eu acho que estou gostando novamente de você. É, já passou, você casou, separou, ficou falada depois de ir naquela festa e dançar loucamente The Killers sobre a mesa, mas ainda assim você me parece uma pessoal legal, daquelas que a gente fica bobo só de olhar. Não, eu não estou bêbado. Uma ou duas, talvez cinco doses daquela bebida verde, amarga, que se bebe em tubos de ensaio e que eu não sei pronunciar o nome. Eu tô bem, relaxa. Só liguei pra dizer que talvez ainda goste de você. Tá, eu sei, são três e pouco da madrugada de quarta feira. Escuta: eu te amo.

Por favor, não desliga. Tem alguém aí? Qual o nome dele? Ah, não tem, né? Jura? Posso acreditar? Lembra de quando você veio aqui em casa e eu estava assistindo pela enésima vez Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e você queria por quê queria me tirar da frente da televisão pra ir no parque de diversões? Lembra? Era domingo, chovia e você parecia uma grávida com desejo de brincar na roda gigante e comer algodão doce. Posso fazer uma metáfora sobre aquele dia, quer ouvir? Tudo bem, eu bebi pra caralho, estou com vontade de te ver e de vomitar, não necessariamente nessa ordem, se é que você me entende.

Mariana, acho que eu estou gostando de você de novo. Acho que eu quero que você volte a me perturbar nos domingos a tarde, que você me tire do sério novamente como você fazia ao mudar freneticamente as música no rádio do carro e, se for do seu interesse, coloco pra tocar Mr. Brightside só pra ver ver você soltar a franga na fila do banco. Não precisa ser agora, mas volte. Volte que eu acho que estou gostando de você outra vez.