terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Love and pop corn.



Certas do silêncio oblíquo, nossas mãos finalmente se encontraram. Era pipoca, drops e coca-cola pra todo lado. Podia ser um beijo, podia ser um abraço, podia ser o que fosse, mas não. Naquele momento nossos olhos se fitaram de uma maneira doida, suja, quase constrangedora que a gente se perdeu por completo. A mocinha enfim se rendeu ao gozo do cowboy, sentindo o afago ocular de um homem que ela mesmo considerava cego pro amor. O cowboy, de uma canalhice inocente, se deixava levar naquele pronome do caso reto, aquele sentimento presunçoso de sala de cinema e era todo açoite na mocinha.

Ela leu e releu de Homero a Roth, sabe de cor e sorteado todas as músicas do Chico, foi nos festivais mais badalados, conheceu os caras mais badalados, discorre sobre o Ingmar Bergman como tivesse sido sua amiga íntima e se torna uma pessoa insuportável quando explica loucamente Fanny e Alexander trinta e três mil vezes. Ela é linda. Gostosa. E sabe. Alguém que não tem noção do quanto é um tesão jamais usaria saias pelo joelho, naquele mostra-não mostra que faz um homem de verdade vender casa, carro e tudo só pelo prazer de lhe dar um anel de noivado. A mocinha deixa ver pouco pra eu ter vontade de ver tudo.

Eu, o cowboy sem cavalo, me enfio em qualquer beco, tomo cerveja em copo de extrato de tomate e só assistia filme da tela quente. Não entendo as coisas que ela fala ou pensa mas ouço calado, embasbacado e orgulhoso. Gosto de exibi-la aos meus amigos normais, de buteco e trabalho normais e ela não se entedia em me acompanhar nos meus planos normais desde que eu aprenda a usar os talheres de fora pra dentro quando estiver jantando com sua tia avó polaca. Sou agora um menino a conhecer o mundo.

Quando a gente sentou na mesma mesa por intermédio de alguns amigos em comum, dois desconhecidos, de mundos tão distantes nem podia imaginar que uma fila de banheiro resultasse em um convite pro cinema, um convite pra ver a vida de uma maneira diferente. Eu tenho a presunção de dizer que vai durar. Ela também. Acho até que é por isso que nossos olhos volta e meia continuam se engolindo durante uma sessão no cinema.

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