quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Nervosismo.



Antes de tudo é necessário entender o que está passando: ele está na sala, mais especificamente na sala do apartamento do pai dela, sentado à mesa, esperando uma deixa pra comunicar aos presentes que iria se casar. Isso, se casar. Se casar com a pequena e amada filha dele. Um homem de um metro e setenta e pouco num confronto bíblico com um cara de sei lá quantos metros de altura, em território inimigo, como arma apenas o subjetivo, o simples e subjetivo euaamoporissovamosnoscasar. Parecia mais fácil nos filmes em que o casal pula a parte do pedido, a parte dos gastos com buffet e a procura interminável por alguém que faça docinhos decentes. Mas ele estava ali, precisava ser forte, suar menos, gaguejar menos e falar menos de coisas absolutamente fora do assunto. Ela abre um vinho, ele se levanta e se esforça pra não deixar transparecer o cagaço que estava sentido quando, enfim, começou:

- Bom, todos aqui sabem que eu e a Lisa nos conhecemos há um bom tempo...

Pensou usar alguma coisa que servisse de gancho para incluir emocionalmente seu futuro sogro nesta empreitada.

- Nossas famílias se conhecem ligeiramente bem e eu e o seu Oswaldo torcemos pro mesmo time. Portanto, hoje...

O suor encobria seu rosto avermelhado de vergonha e ele decidiu terminar logo com aquilo.

- Eu estou aqui pra pedir a mão da Elisa em casamento!

Todos se entreolharam constrangedoramente. Sua baguilha estava totalmente aberta e deixando transparecer a cueca vermelha da sorte. Corrigido o improviso, Lisa levantou-se e o beijou como que apoiando-o pra que tudo saísse à maneira que ela sempre sonhou. A mãe suspirava. Os avós, sorrindo, o chamaram de netinho. A moça que trabalhava na casa fez cara de desaprovação, ela sempre admirou os modos da família e não conseguia entender como aquele menino que, assim como ela, não tinha muito dinheiro, poderia se casar com uma moça tão bem nascida e criada!

Passado o desconforto inicial e com a certeza de que daria certo vinda das caras e abraços de quase todo mundo, notou com certa estranheza a ausência repentina do pai italiano brutamonte de Elisa. Procurou-o no quarto, certificou-se que ele não estaria esmurrando a porta do banheiro e não o encontrou na cozinha. Passou pelo corredor e viu a luz acesa pela porta entreaberta no quarto da noiva. Entrou e viu o sogro sentado na cama. Chamou-o com certo receio - afinal de contas, não sabia qual seria sua reação. Seu Oswaldo no entanto vira-se sorridente:

- Aqui, enfim, voltará a ser o que era. Minha sala de jogos.

Então acendeu um charuto e fumou tranquilo enquanto media cada centímetro daquele cômodo que voltaria a ser seu paraíso. Alberto voltou pra sala e abraçou sem medo a mulher da sua vida.

2 comentários:

  1. Um conto envolvente cheio de expectativas e surpresas no final!
    Parabéns Kiko, adoro a mistura de intensidade e leveza que dá aos seus textos.
    Original!

    Beijos meus

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  2. Há! e não poderia deixar de acrescentar:
    A música foi escolha de mestre, sensacional!

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