segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Borda.




Ela caminha pela borda da piscina. Quase posso sentir seu cheiro agridoce de maçã. Mas hoje ela não se perfumou. O olhar fixo no infinito deixa transparecer sua quase falta do que pensar - e ela repetia a si mesma: templo do amor, templo do retorno. Pra dizer a verdade, ela nem queria estar ali. Mas se propôs a testar seu ceticismo, a acreditar que o que está acabado não volta e entrou no carro para descobrir que cada pedra no caminho tem mais histórias pra contar do que ela imaginava.

Ela caminha pela borda da piscina. E pede uma Skol, é óbvio. Agora ela escancara os olhos caramelos mirando aquele que havia, tão bruscamente, lhe prometido tantas coisas bonitinhas na frente do juiz. E ela o amava. De qualquer forma, precisava conter seus impulsos para não confundir seu nome e se encontrar numa roubada sem tamanho justamente na sua tão sonhada lua de mel.

E eu também caminho pela borda da piscina. Bom, na verdade, eu nem estou ali. Talvez, e apenas, na borda dos seus pensamentos vagos. Tenho a mesma cara de cínico de quando te conheci. Falo muitos palavrões e a gente ri. Te faço um carinho na fronte, dou meia volta, te peço em casamento. Mas não. Eu, definitivamente, não estou ali. E sumo da tua alegoria fantasmagórica quando ele, que está lá, te puxa pelo braço e te beija apaixonado como um ator mais ou menos da novela das oito.

Na borda da piscina eu vejo que não te esqueci. Que te perdi, provavelmente, pra sempre. Na lúdica piscina que existe e que não caminho só há vocês dois. E, por lembrar, me pergunto como se sente estando na loucura de querer ver perpetuado o amor onde o amor já foi. E, por lembrar, desejo sorte em tudo. O que ficou já não há. 

Ela caminha pela borda da piscina.

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