quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Minha solteirice.



Primeiro aviso: o cabelo vai, lentamente, ficando branco. A gente vai mesmo envelhecendo; dia após dia, hora após hora, a cada movimento do relógio e não há nada que se possa fazer contra isso. Nem usando Grecin dois mil. E a gente vai percebendo o que realmente importa e vai deixando o resto pra trás. Tudo imensamente normal até você perceber ei, cara, você ainda tá solteiro!. Não que eu ligue pra esse papo moralista de que pra se amadurecer tem que se ter, invariavelmente, alguém do seu lado pra perceber as novas rugas contigo, estabelecer um lar e blá blá blá. Na real, eu tô mesmo cagando pra isso. Não só por que a imagem de um casal brigando por causa de pasta de dente me cause arrepios mas também por que ainda morar com a minha mãe é ótimo. Mesmo.

Não tenho essa afetação de adolescente que conhece a menina na escola e trocam juras de amor, compram um chevete oitenta e dois e se casam pra tentar provar pra todo mundo que uma vida a dois pode disfarçar a imaturidade que a gente tem, sei lá, até os oitenta anos. Desde muito cedo eu aprendi a me apaixonar e desapaixonar, sofregamente até, sem me deixar levar por convenções estereotipadas de comercial de margarina. Fui, sou e provavelmente serei o estranho da turma. Quero sim, assim que adquirir um pouco mais de cabeça, trocar alianças na frente do padre, mas quero ser feliz primeiro, namorar bastante, sair bastante, conversar bastante e chegar a hora que eu quiser. Do mesmo jeito que me chamam de alienígena quando perguntam e aí, como foi a noite passada com aquela "sua amiga"? e eu respondo sem a menor sombra de dúvida foi maravilhoso, ela não quis transar e a gente passou a noite inteira de conchinha assistindo filme francês. Cada um tem uma ideia de vida perfeita. Bom, a minha é assim.

Segundo aviso: o número de casamentos que você frequenta passa a ser proporcional às cadeiras vazias na nossa roda de amigos. Todo mundo tem sua vida, eu entendo. Ou me esforço pra entender. Fulano de tal conheceu beltrana naquele show animal do Los Hermanos e, depois de muitas margueritas e diálogos pseudo intelectuais, resolveram se casar em Trancoso. Pô, eu admiro. Mesmo sabendo que a mina, na verdade, é engenheira e fala de números o dia inteiro e o cara é professor de lamba aeróbica. Só espero que eles não tenham que beber uma dose cavalar de tequila toda vez que vida for tão Ana Júlia pra virar, assim, um Cara Estranho.

Sei que tudo pode dar certo, eu admito. Não sou assim tão irredutível pra anular a hipótese de que amanhã posso virar a esquina e me esbarrar com o grande amor da minha vida. Tô até afim de alguém, se é essa mesmo a questão. E faz muito tempo. E eu me declarei só agora. Gosto dessa história de sentir um friozinho na barriga quando ela tá on line, de não saber se ela vai me responder ou não no bate papo, de não saber o que pode acontecer se ela aceitar sair comigo na sexta a noite. Parece masoquismo. Mas é vida. Aquilo tudo de inesperado que jamais vai acontecer se você estiver estirado no sofá da sala assistindo Palmeiras x Criciúma com uma pessoa ao lado que você mal conhece. Você sabe que a mãe dela é ruiva mas não sabe se ela escrevia poesia na oitava série, por exemplo. Sabe que ela tem um corsa hatch mas nem passa pela sua cabeça que ela pinta as unhas de acordo com o seu signo do dia. E eu não queria dizer isso mas, isso aí não é felicidade. É, no máximo, comodismo.

Vou me casar um dia. Eu acho. E isso pode acontecer apenas quando meus cabelos estiverem completamente brancos e eu estiver sentado sozinho no buteco. Ou pode rolar na semana que vem. Mas pra mim, pra mim que só acredito na completude se for com aquilo que te faça realmente feliz, tem que ser de verdade. Como um bom clichê do cinema, caso o contrário, não serve. E não adianta vir de mi mi mi que eu tô muito bem assim. Solteiro, feliz e elegantemente grisalho.


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