sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Palíndrome.



Tinha o doce anacrônico do que era velho e novo ao mesmo tempo. E dava pra ver em tudo aquela presença ausente, a foto, a lembrança, a alegoria fantasmagórica que Machado nos deixou como legado da sua própria lição de amor: o que ficou ainda existe ali. Não há como extirpar do tempo todo aquele gestual frágil que se insinuava naquela mesma hora da manhã.

É próprio do meu desejo errante cavalgar pela memória e encontrar alguns conhecidos caminhos já percorridos, é dele a sensação de estar sempre preso - se é que se pode algemar algo feito de tanta paixão e fúria - no momento exato em que cruzei com essa sua mania de ficar coçando o nariz até ele ficar vermelho. 

Se hoje procuro sentido, encontro muito mais em Bruno e Marrone do que em Peyrce e isso talvez me faça cair várias posições na cadeia alimentar dos pseudos intelectuais de buteco mas, dizer: ei, eu te amo, sim, EU TE AMO, em letras garrafais e pra todo mundo ouvir tem me feito um cara bem melhor, eu acho. De qualquer forma, fica a sensação do que foi dito, signo e significante, e não há nada mais puro do que essa semântica torta que eu mesmo escolhi.

Então eu escrevi uma canção que falava de nós dois. Uma música que diz sobre uma distância flexionada, Deus do céu, distanciamento. E me senti outra vez embaraçado por fazer tanta firula por algo que, pensando bem, tá bem lá pra trás. Ora bolas, pra que tanta lucidez, gostar de alguém é sempre assim: vergonha e vertigem. E encantamento. 


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