quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Aos vinte e sete.


Neste próximo ano eu faço vinte e oito. Quem me conhece sabe, eu sempre tive um misto de medo e vontade de morrer aos vinte e sete. A poesia ainda me consome. Ainda não cumpri nada do que planejei aos dezesseis. Não fiz um filme. Não casei. Não escrevi minhas pequenas notas biográficas e nem fui à Londres conhecer a Abbey Road. O lance é que, olhando daqui, eu fui putamente feliz. Tive amigos que me deram a maior força quando fui encontrar minha primeira namorada. Uma família incrível que incentivou meus sonhos mais insanos. Uma vida cheia de propósitos que, ainda que não completamente cumpridos, foi do caralho.

Pensei em escrever qualquer coisa sobre o final do ano que parecesse fofa para quem estivesse lendo. Pensei até em esmiuçar cada frase do James Joyce pra dizer que estes trezentos e sessenta e cinco dias que passaram tiveram alguma utilidade comum a todos. Mas não. Não por que eu não sei o que se passou na sua vida. Não por que de repente seu cachorro pegou uma virose e você passou uma semana com ele no veterinário. Hoje eu só quero dizer o quanto meu ano foi bom. E ele foi foda.

Há muito tempo que eu vinha tentando por em prática minhas alucinações panfletárias. E eu pus todas elas na roda viva destes dias que se passaram. Lancei minha coleção de camisetas, que foi uma noite linda e quase que não sobrou nenhuma pra mim. Ajudei a organizar uma cavalgada que ficou na história da cultura popular da minha cidade. Tive o privilégio de promover um encontro na internet dos meus amigos escritores com os poetas que admiro desde que eu era criancinha. Juntei uma galera pra pedalar duas vezes a favor da cultura e virei ícone da luta em prol dos artistas que tentam publicar alguma coisa. Por isso tudo eu digo que valeu. E mais: tudo isso ainda é presente em mim.

Este ano eu coloquei meu nome à disposição do meu partido para as eleições de dois mil e dezesseis e, se tudo correr do jeito que está, provavelmente você está lendo um futuro prefeito. Diagramei um jornal. Planejei outro jornal. Me mudei e fiz questão de deixar claro que eu semprei amei o que faço: a arte de colocar num papel as ideias que tive quando achava que o mundo poderia mudar se a gente mudasse. As ideias que ainda acredito.

Este ano eu tomei coragem de me declarar para aquela moça que eu sentia tanta falta há quatro anos. E eu pareci um idiota. Este ano eu bebi demais e falei coisas demais que me fizeram prometer não colocar nada de álcool na boca em dois mil e quinze. O ano que vai chegar e nos trazer tantas outras oportunidades de ser feliz. E de resgatar. Por que aquele menino que sonhou em mudar o mundo está conseguindo. Aos vinte e sete eu renasci.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Para Gabriela, para sempre.


Eu andava meio desavisado quando alguém ligou e eu te conheci. A metáfora mais real e perfeita pra tudo que eu conheci ao seu lado. Justo quando eu não sabia de nada, veio você e me explicou tudo. E foi no exato momento que eu acreditei conhecer alguma coisa que você chegou confundindo o que ainda havia de certeza em mim. A melhor. Sem mais.

Lembro quando eu te buscava na parada de ônibus e a gente ficava conversando no carro até altas horas por que era bom ficar assim; rindo das nossas pequenas descobertas ouvindo Engenheiros do Havaí. Lembro quando você me pediu pra fingir ser seu tio pra você passar um fim de semana viajando. Lembro quando a gente bebia litros de vinho barato na varanda. Lembro que você me fazia um bem imenso. E ainda faz.

Tinha tudo planejado: passar as férias com você em Floripa e te recitar todas as poesias do Manoel Bandeira. Não deu certo. Hoje eu vejo que tudo que aconteceu, é verdade, até nossos tropeços, foram lindos. E a gente continuava a fumar um Madison até alguém pegar no sono e dizer até logo.

Eu tô com uma puta saudade de você, garota. Saudade de brincar no negro dos seus olhos que são os mais lindos que já vi. De te levar pra casa depois de ficarmos horas conversando abobrinhas e tomando açaí. De te encontrar no carnaval. De ir à boate mais copo sujo de todos os tempos com você. Por que tudo isso era maravilhoso. E era tudo isso com você.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A chuva para os dois.


Era assim quando chovia: você dizia que era perigoso ficar com os pés no chão só para eu colocá-los entre os seus, no sofá. Uma coisinha fofa. Mas hoje tá relampeando tanto que eu nem sei se era tão boba assim. E você desligava a tevê alegando que ela poderia queimar com um raio, que deveríamos apagar as luzes e dormir abraçados e tantas outras coisas. Como era bom fingir que acreditava em toda aquela historinha apenas pelo prazer de ficar em silêncio, ali, grudadinhos assistindo os pingos baterem na janela da sala.

Chove lá fora e talvez você esteja nesse momento ensinando um outro cara a sobreviver no temporal. Bom, olhando agora, parece mesmo que, quando foi a minha vez, eu não aprendi. Já não não sinto mais meus pés fora do chão antes mesmo de você pedir e, quando acendo a lâmpada, é claro, a luz acabou.

Ando esperando outros dias com mais sol, onde a sua falta não faça desabar o céu e eu não sinta mais tanto medo de dormir sozinho naquele velho sofá. Dias em que eu possa tirar sem medo a toalha na frente do espelho por que a manhã está linda. E é aí quando eu penso se é isso mesmo que eu quero; viver pra te esquecer justo quando é lindo te lembrar. Um misto da sua presença ausente em cada pingo de chuva que agora cai sobre mim.

Tenho pensado tanto em você. Lá fora o mundo se derrete em lágrimas. E eu não tenho mais você aqui pra me dizer o que fazer.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Chocolate Quente.


Assim eu/ em tua direção sempre me inclino/ 
apenas nos separamos/ mal acabamos de nos ver.

Vladimir Maiakóviski,  O que aconteceu comigo.



Ela chorava copiosamente num canto da sala. Era estranho ver aquela moça tão bonita desabando em lágrimas, os cabelos molhados depois de um banho demorado, sentada com as mãos no rosto. Na verdade, sempre me desconcerto ao ver mulheres chorando. Acho que mulher não deveria chorar. Me agarrei a ela e, sem querer, eu chorei também.

-Fica tranquila, eu volto na sexta.

-Talvez, talvez... isso seja tempo demais.

-São só cinco dias.

Cinco dias. Cinco dias. Eu repetia essas palavras como um mantra quase dentro das suas orelhinhas ainda úmidas. Não bastava. Nada que eu dissesse faria alguma coisa mudar dentro daquilo que a gente estava vivendo. Essa foi a minha escolha, não dela. Não era ela quem mandava cartas de amor. Me senti um cafajeste profissional. Ficaria fora menos de uma semana mas isso não importava. Ela me pedia pra ficar.

-Tchau. Fica com Deus.

-Olha, eu não amo você.

-Que conversa é essa?

-Não. Eu nunca amei você. E agora, justo agora, que eu aprendi a fazer chocolate quente na medida certa pra duas pessoas você vai embora?

-São só cinco dias.

Saí reparando em cada detalhe que eu via na rua. Os postes. As mesas. As pessoas que não se encontravam. Cinco dias. Era tempo demais para ela.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Me encanta. Mas vai.

E era amor pra caralho. Mesmo. Desses que a gente reinventa todos os dias, todos os minutos. Desses que a gente se diverte só de lembrar como era engraçado ficar se olhando por entre os copos - por um instante nos deformando, em todos os outros nos confundindo. Um amor que a gente fica vendo acontecer na tela quente e se dá conta que também, um dia, também foi nosso.

Por que tudo era seu: cada bobagem que eu via, cada ônibus que eu perdia, o casal de passarinhos fazendo ninho na minha varanda. Tudo era motivo para um SMS apaixonado pra contar que, pela graça de existir, sim, você eu, aquilo tudo também era nosso. E você ria sem dar explicação aos outros, lendo aquela mensagem de texto sem por quê ou pra quê, lembrando de mim. Lembrando de mim por eu estar, loucamente, lembrando de você às três e meia da tarde.

Agora eu ando meio só, é verdade. Não gosto muito de ficar explanando os motivos que nos levaram a caminhos tão opostos. Porque isso, porque aquilo... as pessoas insistem em me fazer perguntas que, honestamente, eu não tenho respostas. Bem que eu poderia dizer que acabou por que acabou ou mentir que você mudou pra Londres pra terminar um curso qualquer. Que talvez eu estivesse ocupado demais escrevendo. Que nossas famílias não se batiam muito bem. Mas eu não sei. Talvez ninguém saiba.

Devo confessar que não abro mais minhas redes sociais desde que eu vi uma foto de você sentada ao lado de um cara que, era tão óbvio, sentia alguma coisa também. Não quero mais me propor a isso apesar de te desejar toda sorte do mundo com ele ou com quer que seja. Eu te quero bem. Como no primeiro momento que te vi e já descobri que era amor pra caralho. Mesmo.