quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Chocolate Quente.


Assim eu/ em tua direção sempre me inclino/ 
apenas nos separamos/ mal acabamos de nos ver.

Vladimir Maiakóviski,  O que aconteceu comigo.



Ela chorava copiosamente num canto da sala. Era estranho ver aquela moça tão bonita desabando em lágrimas, os cabelos molhados depois de um banho demorado, sentada com as mãos no rosto. Na verdade, sempre me desconcerto ao ver mulheres chorando. Acho que mulher não deveria chorar. Me agarrei a ela e, sem querer, eu chorei também.

-Fica tranquila, eu volto na sexta.

-Talvez, talvez... isso seja tempo demais.

-São só cinco dias.

Cinco dias. Cinco dias. Eu repetia essas palavras como um mantra quase dentro das suas orelhinhas ainda úmidas. Não bastava. Nada que eu dissesse faria alguma coisa mudar dentro daquilo que a gente estava vivendo. Essa foi a minha escolha, não dela. Não era ela quem mandava cartas de amor. Me senti um cafajeste profissional. Ficaria fora menos de uma semana mas isso não importava. Ela me pedia pra ficar.

-Tchau. Fica com Deus.

-Olha, eu não amo você.

-Que conversa é essa?

-Não. Eu nunca amei você. E agora, justo agora, que eu aprendi a fazer chocolate quente na medida certa pra duas pessoas você vai embora?

-São só cinco dias.

Saí reparando em cada detalhe que eu via na rua. Os postes. As mesas. As pessoas que não se encontravam. Cinco dias. Era tempo demais para ela.

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