quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Até qualquer dia.


Depois de pedir para o garçom trazer outro copo e descer mais uma ele deu uma olhada bem no fundo daquela imensidão que eram os olhos dela e suspirou. Ei, você é a mulher da minha vida, disse sem remorso ou embargo qualquer em sua voz. E ela, aquela moça que trazia no sorriso os delírios mais bonitos, deu uma mordiscada no lábio inferior como se aquilo que ela não entendia fosse, ao mesmo tempo, a explicação de tudo. Tudo bem, respondeu sem parecer que sim ou que não.

E ela foi pra casa guardando aquele segredo como um passarinho frágil aninhado entre suas mãos e seu peito. Tinha medo que naquela altura da noite alguém viesse lhe roubar aquele presente precioso que acabara de ganhar há alguns instantes naquela mesa de bar. E a rua parecia mais estreita. Ou seria seu coração que passou a ficar mais apertado? Deu vontade de voltar, afinal de contas, ela também tinha tanto a dizer; pô, seu bobo, você não deveria sair por aí ofertando um poema às duas e meia da manhã. Naquela madrugada ela vestiu seu melhor sorriso, deu boa noite pro porteiro e subiu.


No táxi tocava a canção mais brega que ele já tinha ouvido. E ele se lembrava daquele cabelo loiro que mais parecia uma cachoeira de sonhos caindo como moldura pelos seus ombros. Era a sua noite mais incrível, aquela que ele iria contar para os netos dos netos e pra quem mais quisesse ouvir. E que tinha acabado com um abraço apertado e a certeza de que ainda iriam se ver. Então não acabou, pensou ele enquanto o taxista já parava em frente ao seu portão. Ao entrar em casa, ele olhou para o céu e agradeceu. Obrigado, Deus.

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