terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Sobre nós e os outros.

Um dia ele vai chegar pra ela e dizer: tá tudo bem. E vai sair atrás de um táxi fingindo procurar um cigarro ou qualquer outra coisa pelos bolsos da calça. Ela vai ficar olhando de longe, ainda sentada naquela mesa de bar, ele sumir entre os carros que passam em sua frente. Sim, eu posso ver tudo isso daqui onde a gente está, na mesa ao lado.

Repara como ele olha pra ela enquanto bebe mais um gole de cerveja, como ele batuca freneticamente o cardápio quando ela se levanta para ir ao banheiro, como ele sorri de cada piada boba que ela conta. É certamente um cara apaixonado por cada detalhe daquela moça. Agora perceba como ela parece olhar para os lados toda vez que ele fala alguma coisa, como ela só balança a cabeça pra dizer que entendeu, como ela insiste em ficar verificando as mensagens no celular. Ela não gosta dele, é fato.

Talvez se conheceram na escola, ele um cara descolado e cheio de amigos que não dava a mínima para aquela mocinha de óculos e franja que sentava na primeira fila. Ela a mocinha de óculos e franja que nutria uma paixonite platônica por aquele cara descolado. Certo dia, na festa de alguém, eles ficaram. E ficaram. E ficaram. Até que hoje, depois de tantos anos, a coisa se inverteu; ele não parece mais tão cool assim e nem ela usa mais tanta maquiagem. É o fim, dá pra ver.

E você? Ainda gosta de mim? Olha, tá vendo aquele outro casal de meia idade sentado à sua esquerda? Eles não param de olhar pra gente. Provavelmente pelo fato de que o assunto deles acabou e eles começaram a sentir um pouquinho de inveja desse nosso papo cheio de risadas, caras e bocas. Talvez por que passaram a propor as mesmas conjecturas pro nosso amor assim como acabamos de fazer. Talvez por que os nossos olhos dão muita bandeira quando se perdem um no outro. Ah, e por falar nisso, eu te amo.

Tá, se você quer mesmo descobrir como eu sei disso tudo eu vou te contar. Eu já fui aquele cara. É verdade, antes de conhecer você eu poderia escrever um livro inteirinho sobre partidas. Se chamaria Tratado Completo da Despedida. Me apaixonei muitas vezes, você sabe, eu já te contei. Agora me parece que não vou mais publicar nada por que isso já não me pertence. Quando estou ao seu lado eu esqueço a hora de ir. Mesmo quando você, entre tequilas e sorrisos, me pede pra ir embora que já está tarde. Ao seu lado é onde eu quero ficar. Não importa até que horas. Não importa até quando. Desde que chegou, eu só quero ficar aqui pra sempre.

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