sexta-feira, 1 de maio de 2015

A fotografia.

Gosto dos seus olhos brincando na fotografia -  a alegoria fantasmagórica que Machado sonhou. Um ser não sendo. Alguma coisa que me prende, que me devora naquela imensidão negra de sobrancelhas firmes. Um passo em falso e bam! Lá estou eu perdido no infinito do seu olhar.

E eles brincam de querer alguma coisa; como uma criança que se apressa a abraçar o mundo antes de dormir e só deseja a urgência quente de uma aventura pra sonhar. Agora, ainda longe, me resta imaginar o objeto pretendido como se também fosse de interesse meu apenas pelo fato de ser seu, um querer arbitrariamente compartilhado por mim. Triste glória de gostar de alguém.

Pode ser um bem como pode ser um céu estrelado, o que os seus olhos negros procuram já é a própria busca e isso me encanta. Como quem observa a vida. Como quem deseja a vida como poucos. A fotografia já tem sua legenda particular e subjetiva: aqui estou e não há nada que me prenda.