quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Dentro de você (ou uma flor que brotou no asfalto).

Imagine a cena: de um lado da mesa um cara chora. Mas chora muito, copiosamente. Que fique bem claro, este sujeito não sou eu. Nesta história, pelo menos, eu sou apenas o observador maduro que tende a assistir a tudo com um olhar empírico. Do outro lado você sente sono, vergonha e só. Passa a mão pelo cabelo, checa as mensagens no celular, dá uma bocejada bem-servida de desprazer e pede a Deus em silêncio que aquela noite chegue ao fim.

Bom, o chorão em questão poderia ser aquele amigo ativista desolado pelo derretimento das calotas polares, poderia ser um colega de trabalho se lamuriando pela não promoção ou até mesmo um bêbado que se sentou sem a sua permissão para declamar dramaticamente um poema da Florbela Espanca. Mas aquele cara, baby, é só um rapaz qualquer que ficou putamente feliz em te encontrar naquele barzinho e, sei lá, por um descuido da sua sanidade resolveu puxar uma cadeira e se sentar com você.

De longe não dá pra saber direito por que ele ficou tão triste de uma hora pra outra mas eu tenho lá minhas sugestões. Um: ele pode ter perdido a carteira e, ao ver um rosto conhecido, correu pra pedir ajuda. Dois: depois da terceira dose ele se lembrou do cachorro que fugiu no parque e nunca mais voltou. Três: era uma nuvem carregada e bastou uma mudança no clima para ele virar tempestade. Pela minha experiência acredito de olhos vendados na última opção, mas que vento forte era esse para desabar tamanho temporal?

Você faz um gesto tímido para o garçom que já conhece bem a deixa; era a hora de trazer a conta. Seus olhos já não escondem o tédio por estar ali vendo um cara barbado se declarando entre lágrimas e martinis com gelo e limão. Só queria ir pra casa e fazer o de sempre: entrar na internet, fuçar todos os sites de textos apaixonados só pra postar no facebook aquele que melhor combinasse com seu vestido de solidão. Depois dormir e sonhar com o príncipe encantado que vai até tão-tão distante a bordo do seu cavalo branco, enfrentando ogros e dragões pelo caminho, só pra encontrar você perdida na torre mágica.

No fundo, no fundo acho que você gostaria mesmo era de dar um tapa na cara daquele idiota. De dizer pra ele que amores reais são uma grande furada, que se declarar para a pessoa amada passou a ser blasé há três anos atrás. Que esperar e nunca falar é hype. Que talvez tenha medo de se arriscar. Que toda aquela cara de bunda é só uma armadura da moça frágil que se tornou. Que morre de vontade de se entregar loucamente e que poderia ter ficado a noite inteira ali ouvindo aquele cara se abrindo da forma mais bonita e verdadeira que já viu e ouviu. Que não importa o que aconteça: o importante é a caminhada, o resto é só calçada.

Apertou o botão de compartilhar e esperou as curtidas subirem. Mas essa noite você sonhou com ele. Tenho certeza.

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