quarta-feira, 15 de junho de 2016

Sobre cervejas, descobertas e tudo aquilo que já sei.

Quando você se levantou pra ir embora, imediatamente, eu descobri. Não por que as pessoas em nossa mesa me olharam com aquela ousadia desavergonhada dos meninos da quarta série quando o coleguinha se apaixona perdidamente pela professora de inglês. Não por que a moça do lado jurou, super animada, ter sentido vibrações positivíssimas entre um gole e outro das nossas cervejas. Descobri por que, ao me despedir, senti uma vontade absurda de pedir pra você ficar.

E não era pra ser você. Na verdade, não era pra ser ninguém. Era um momento meu e só quando você chegou com tudo, arrombando portas e janelas com essa conversa boa, esse sorriso fácil e todos os mistérios possíveis dentro dos olhos caramelos. Completamente rendido, apenas agradeci o fiel acaso por, finalmente, trazer você pra mim.

Descobri por que a saudade me acordou às três e meia da manhã assoprando no meu ouvido a vontade de te ver novamente e sentir outra vez todo aquele misto de loucura e encantamento. E eu, protegendo a fama do meu coração durão, bem que resisti, afinal de contas, há várias formas de se gostar de alguém sem, necessariamente, desejar sentir o outro dançando no estômago a cada vez que o celular apita uma nova mensagem do whatsapp. Sem sucesso, resisti.

Não era pra ser você quando já no outro dia, logo cedo, nos falamos pelo telefone. Nem quando estava todo mundo na mesa menos você e eu senti sua falta, era pra ter sido você. Não era pra ser você quando escutei mil vezes a música que você disse que mais gosta. Não era pra ser você em momento algum, mas que ótimo que sempre foi.

Hoje esse sentimento descoberto é tão nítido como ferida exposta e, modéstia a parte, raro como uma sexta feira sóbria - e faço questão de ser assim para, de agora em diante, tudo poder ser você em voz alta sem medo dos meus próprios ecos. Ser você cada memória, cada conversa de boteco, cada filme bobo que me faz suar pelos olhos. Por que o que eu sei quando você fica é muito mais bonito do que eu descobri quando se levantou pra ir embora.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Para além desses olhos que eu ainda não descobri a cor

Inicialmente eu me apaixonei pelo seu rosto: uma carinha assim tão perfeitinha que se me contassem que Michelangelo voltou só pra esculpir cada detalhe, eu acreditaria. Mas aí fiquei em dúvida. Depois me apaixonei pelas tuas coxas que não mentiria se dissesse que são as mais lindas que já vi. Outra vez me questionei. Logo após me apaixonei pela sua voz ressoando pela casa que, de tão deliciosa, eu poderia incluir cada palavra na pasta "a melhor playlist dos meus vinte e poucos anos". Sobre mim, novamente, apareceu uma grande e cintilante interrogação.

Nessa indecisão, pensando e pensando, talvez eu tenha entendido pela primeira vez o beabá da beleza com aquela clareza irracional das crianças. A tal beleza que fez meus avós ficarem casados cinquenta e tantos anos. A beleza que é ainda mais bela que si mesma e que estava ali, tão na minha cara que até dá pra sentir uma certa raivinha por não ter descoberto tudo isso antes.

Hááá! Yey Yeah! A vida nos pegando na boa e velha piadinha do malandro: nunca foi o teu rosto milimetricamente desenhado ou tuas mechas blond. Sempre foi o jeito incrível que você mexe no cabelo passando os dedos do comecinho da testa até a nuca, como que a fazer um rio loiro desaguar no mar dos seus ombros. Nunca foram as tuas coxas de dançarina do É o Tchan. Sempre foi o jeito que você se senta e cruza as pernas, o jeito que você passa de lá pra cá desafiando meus sentidos. Nunca foi tua voz, que ironia. Sempre foi você olhando bem dentro de mim com esses olhos que eu ainda nem defini a cor e me perguntando se eu vou.

Sinto lhe informar, moça: você é ainda mais bonita do que diz o seu espelho todas as manhãs e posso até arriscar que esses homens que te amam e proclamam em um loop uníssono a sua perfeição ainda não viram sequer um décimo dessa lindeza que é você. E você sabe por quê? Por que eles ainda não aprenderam a ler as histórias que o seu sorriso conta às três e meia da tarde, nem o livro dos teus abraços ou o dicionário psicodélico dos teus gestos quando acorda. Melhor pra mim que aprendi e junto a ti agora todas as coisas. 

Depois de tudo eu me apaixonei por você abrindo a porta do quarto tão maravilhosamente que eu estou convencido que se existisse um curso de girar maçanetas você daria aula. E tive certeza disso. Depois de tudo eu me apaixonei por você comendo pizza de um jeito tão fascinante que dali em diante elegi mussarela com manjericão o casal vinte da culinária gourmet. Depois de tudo, definitivamente sem por quê ou pra quê, eu me apaixonei por você. E o melhor é que depois de tudo ainda é só começo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Casualmente na Biblioteca Nossos Olhos Se Encontraram.


Me lembro bem, você passeava e cuidadosamente percorria tudo com os olhos no volumoso corredor dos clássicos. Eu, desajeitado até a alma, procurava alguma coisa não lida entre os beats americanos quando, de repente, saquei um Bourroughs e você um Joyce, e nossos olhos se cruzaram no vão da prateleira pela primeira vez. Duas infinitudes paradas entre Junkie e Finnegans Wake tentando encontrar um equilíbrio entre a fábula, a cábula e todo o caos que havia em nós.

Aquele instante, infindável instante de lirismo e frenesi, de amores - literalmente - entregues ao pó e às traças, não durou, talvez, mais que alguns poucos segundos. Ainda vagueia pela memória a imagem de você sorrindo desapercebida de tudo aquilo que causou e sumindo (se perdendo?) dentro das histórias mais bonitas que alguém já escreveu. E eu nunca mais te vi.

Talvez esteja agora em Praga sendo Teresa. Talvez esteja, bravamente, lutando em Segóvia. Quem sabe até em Santiago lendo sobre os ombros de Neruda a sua canção desesperada. Não me admiraria encontrá-la em Manhattan de mãos dadas com o professor Kepesh ou no Rio vivendo como Bentinho. Minha única certeza é que, onde estiver, terá naqueles grandes olhos de jaboticaba madura o inconfundível brilho da descoberta.

Fico imaginando se algum dia ainda irei te encontrar por aí numa dessas bibliotecas da vida e faço planos de te chamar para um café só pra saber como termina O Retrato de Dorian Gray e confessar ao pé do seu ouvido que nunca faltou tempo de concluir a leitura, o que faltou foi vontade mesmo. Pra te ouvir falar como Borges é fantástico ou como são chatas essas trilogias vendidas nas Lojas Americanas. Te ver rir de tudo isso.

Quando voltar das suas maravilhosas aventuras faça o favor de me encontrar aqui, nesta poltrona de canto, o cara de blusa bege lendo Cem Anos de Solidão caso você não se lembre mais de mim, Mas venha mesmo. Quero muito saber como foi a viagem.




segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Fica.

Meu único pedido é que você nunca permita se apagar em mim - o mundo é foda, baby, e o baixo astral é competitivo: contas, trânsito, coisas fora do lugar. Que o seu sorriso sempre me lembre que ter te encontrado, ainda que há bastante tempo, e sentido naquele instante infinitas possibilidades brotarem dentro do nosso abraço me fez entender que é das lembranças mais simples que, as vezes, se alimentam os amores mais complexos, que felicidade é a única coisa que deve ocupar nossos espaços vazios e que distância é um conceito relativo já que, mesmo de longe, te sinto sempre perto de mim. Não me deixe esquecer, nem mesmo nas terças feiras mais cinzas, nem mesmo quando toda minha poesia parecer estar perdida, que é de você que eu gosto e que é pelo caramelo dos seus olhos que se acabam estoques inteiros de vinho nas prateleiras desta cidade onde o seu cheiro não chega. Meu único pedido é que você ocupe este lugar que é só seu.