quarta-feira, 27 de abril de 2016

Para além desses olhos que eu ainda não descobri a cor

Inicialmente eu me apaixonei pelo seu rosto: uma carinha assim tão perfeitinha que se me contassem que Michelangelo voltou só pra esculpir cada detalhe, eu acreditaria. Mas aí fiquei em dúvida. Depois me apaixonei pelas tuas coxas que não mentiria se dissesse que são as mais lindas que já vi. Outra vez me questionei. Logo após me apaixonei pela sua voz ressoando pela casa que, de tão deliciosa, eu poderia incluir cada palavra na pasta "a melhor playlist dos meus vinte e poucos anos". Sobre mim, novamente, apareceu uma grande e cintilante interrogação.

Nessa indecisão, pensando e pensando, talvez eu tenha entendido pela primeira vez o beabá da beleza com aquela clareza irracional das crianças. A tal beleza que fez meus avós ficarem casados cinquenta e tantos anos. A beleza que é ainda mais bela que si mesma e que estava ali, tão na minha cara que até dá pra sentir uma certa raivinha por não ter descoberto tudo isso antes.

Hááá! Yey Yeah! A vida nos pegando na boa e velha piadinha do malandro: nunca foi o teu rosto milimetricamente desenhado ou tuas mechas blond. Sempre foi o jeito incrível que você mexe no cabelo passando os dedos do comecinho da testa até a nuca, como que a fazer um rio loiro desaguar no mar dos seus ombros. Nunca foram as tuas coxas de dançarina do É o Tchan. Sempre foi o jeito que você se senta e cruza as pernas, o jeito que você passa de lá pra cá desafiando meus sentidos. Nunca foi tua voz, que ironia. Sempre foi você olhando bem dentro de mim com esses olhos que eu ainda nem defini a cor e me perguntando se eu vou.

Sinto lhe informar, moça: você é ainda mais bonita do que diz o seu espelho todas as manhãs e posso até arriscar que esses homens que te amam e proclamam em um loop uníssono a sua perfeição ainda não viram sequer um décimo dessa lindeza que é você. E você sabe por quê? Por que eles ainda não aprenderam a ler as histórias que o seu sorriso conta às três e meia da tarde, nem o livro dos teus abraços ou o dicionário psicodélico dos teus gestos quando acorda. Melhor pra mim que aprendi e junto a ti agora todas as coisas. 

Depois de tudo eu me apaixonei por você abrindo a porta do quarto tão maravilhosamente que eu estou convencido que se existisse um curso de girar maçanetas você daria aula. E tive certeza disso. Depois de tudo eu me apaixonei por você comendo pizza de um jeito tão fascinante que dali em diante elegi mussarela com manjericão o casal vinte da culinária gourmet. Depois de tudo, definitivamente sem por quê ou pra quê, eu me apaixonei por você. E o melhor é que depois de tudo ainda é só começo.